Sopro de intensidade...



Pensamentos, como cabelos, também acordam despenteados. (…) E às vezes também não há água, mão, nem pente, gel ou xampu capazes de domá-los. Caio Fernando Abreu
Pensamentos, como cabelos, também acordam despenteados. (…) E às vezes também não há água, mão, nem pente, gel ou xampu capazes de domá-los. Caio Fernando Abreu


Eu quero sangue de barata...
quero gritar até ficar rouca...
quero escrever até sangrar, até virar uma verborragia sem fim, sem ponto, nem vírgula e sem pausa pra respirar pra ver se consigo, em fim, exorcisar o suspiro que insiste em me assaltar desprevenida...
O silêncio dói, porque ele sinaliza indiferença e a indiferença sim, dói bastante...
Quero o fim da dor, o botão de "off" para sessar os sentimentos que insistem em permanecer mesmo quando a razão diz pra irem embora...
Como uma criança mimada quero minha realização aqui e agora! E que num piscar de olhos tudo se realize e não somente depois de tanto querer, perder a graça.
Teria graça se fosse fácil sim, instantâneo como o são as demais coisas...

Estranho ter tanto amor pra dar, tanto sentimento pra dedicar, tantos dedos para deslizar em pele, sorrisos e olhares, tanta música pra cantar, tanta inspiração pra dedicar, tanto sentimento pra doar de graça, tanta despretenção, tanta luz, tanto carinho, tanto ser, tanta essencia, tanta paz, tanta e tanto... pra nada? ninguém? que se habilite, se proponha, se doe, se permita, se aliste, prontifique, entregue, mereça, sinta?
É tanto pra tão pouco que de tão profundo se afoga no raso.
Se desperdiça na fluidez das futilidades líquidas.

Ah, a bendita e maldita intensidade!! que insiste em se instalar, nos arrebatar, viciar e depois ir embora assim , do nada, como chegou, sem pedir licença.. e deixa no vácuo um vazio que só é preenchido involuntariamente com a dor da abstinência dos sentidos despetos e da saudade que insiste em doer..
Dor que nos leva a reiniciar as reivindicações iniciais: "quero sangue de barata... gritar..."
Mas se me perguntassem: "Prefere sentir tudo isso dinovo a ter uma vida insonsa e sem dor nem sabor eu responderia prontamente: Deixa sangrar, pois tudo que sangra tem vida e coração que pulsa pra bombear o até então bombardeado coração".

Em tempo: Tô com medo de mim... sinceramente, de onde vem tudo isso? sempre existiu adormecido? a quem devo atribuir os créditos da inspiração? Devo declarar saudades de mim, aquele eu compassivo, calmo e manso? Ou devo declarar que meu avesso pisca pra mim, flerta, me encanta e seduz?
Só sei que sinto..sinto..sinto.. e escrevo! E o que vem de mim só sai pelas lágrimas ou pelas palavras.. que assim seja.

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